Às vezes eu fico pensando na vida e sinceramente
acho que nasci tarde demais. Tarde demais para fazer diferente. Tarde demais
para pensar algo novo. Tarde demais para surpreender. Tudo que vale realmente a
pena já foi vivido, feito, inventado. Ouvi hoje em um documentário que o único
momento digno da vida é o passado. Acho que foi Tom Zé que disse, com suas
palavras, não com as que eu usei para repercutir agora. E o passado a que ele
se refere ficou lá na década de 60, 70, 80, não mais que isso ou bem antes
disso.
Nasci em 85, o que significa que a
década em que posso afirmar que me alimentei de cultura foi à década de 90. E o
que de interessante aconteceu na década de 90? Mais precisamente no seu fim? Digam-me,
por favor, porque não me recordo de nada. Às vezes acho que nem sou tão boa jornalista,
poeta, escritora, artista, como poderia ser por culpa do ano em que eu nasci. Sou
quase capaz de afirmar que se no meu RG tivesse escrito, no campo da data de
nascimento, 12 de março de 1975, eu seria um gênio qualquer.
E não pense que isso é uma pretensão
ou uma prepotência ou uma arrogância. É só uma constatação simples e óbvia. Quem
não viveu a tropicália, a jovem guarda, a bossa nova, o movimento hippie, não
participou de Woodstock, não conviveu com Vinícius de Moraes, não estava
presente no auge do rock nacional e internacional e não curtiu sequer o
nascimento do Manguebit, pode ser o que nessa vida, em seu sentido cultural? Nada
e ninguém. Ou só um alguém que remexe no passado procurando algum sentido que
não encontra no presente.
Não há mesmo sentido algum no
presente. Não há sentido na era da tecnologia. Não há sentido na modernidade,
na contemporaneidade, na atualidade, muito menos na globalização. Não há sentido
nesses fragmentos culturais que pincelamos por aí, que surgem e se acabam antes
mesmo de ter surgido, porque ninguém mais entende de movimentos, manifestos,
revolução, novidade, criação. Não há sentido sequer nos textos que faço, nas
poesias que acho que escrevo e nos rabiscos sem criatividade nenhuma, sem
novidade nenhuma, sem atrativo nenhum, que pretendo, um dia, talvez, chamar de
livro. É uma afronta ao passado.
Esse passado tão rico, tão cheio, tão
profundo, que não nos deixou nada para descobrir, inventar, explorar. Esse passado
de tanto talento, dom, magnitude. Esse passado tão cheio de si, de glória, de
homens e mulheres que se encontravam com o que levavam por dentro de si mesmos.
Hoje em dia somos só perda de tempo. Só seres estranhos e perdidos. Só tentativas
fracassadas de autenticidade, facilmente desbancada por qualquer busca supérflua
pelo passado.
Somos só sombra, sem água fresca, sem
frescor. E acho que o melhor que podemos fazer é nos contentar e aplaudir. Talvez
imaginar que um dia estivemos ali ou tentar, ainda que sem sucesso, sugar desse
mel de passado que temos guardado no peito, nas gavetas, nas fitas antigas e
nas fotos desbotadas e amareladas. Mas ainda afirmo, o mundo seria outro se eu
tivesse nascido, pelo menos, dez anos antes.
Eis o documentário que me inspirou a fazer esse texto.
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