sábado, 1 de setembro de 2012

SÓ SEI QUE NADA SEI





Daqui a três anos serei uma Balzac. O que isso quer dizer? Pode usar esse termo no feminino? O Word está me dizendo que não. Uma amiga me contou que significa fazer 30 anos e eu acreditei nela. Acreditei em várias coisas que me disse. Nem por isso todas se concretizaram. Mas ela gostava de se denominar como a Dona da Verdade. Quem sou eu pra retrucar? Ou duvidar? Ninguém. E quanto mais o tempo passa, mais perco aquele egocentrismo que muitas vezes era a única coisa em mim que chamava a atenção das pessoas. O que vai substituí-lo? Não sei. Só sei que nada sei e na verdade nem me lembro quem disse isso. E isso, para ser muito sincera, não me interessa.
Não tenho medo de fazer 30 anos. Sei que muitas mulheres se descabelam, mas pra mim, acho que vai ser natural. Como algo que se faz naturalmente: andar, comer, falar, trepar. É, eu tinha que falar trepar. Desbocada é outro adjetivo que tenho na boca de muitos. E quem sou eu para dizer que eles estão errados? Ninguém. Só sei que nada sei. Só sei que, se virou senso comum, deve fazer sentido. Não dizem que a voz do povo é a voz de Deus? Quem disse isso? Não preciso repetir que não sei, nem que só sei que nada sei, ou preciso? Faz tanto sentido quanto a rosa falsificada que perde as pétalas. Que largam o centro, amarelo sol de verão, a pino, no centro, no meio do mundo, no teto.
Incrivelmente hoje me senti inspirada. Por quê? Não sei. Sei que nada sei e quando se trata de mim, sei menos ainda. E é estranho porque aprendi a meditar, fiz seminário hare krishna, decorei mantras, me formei na faculdade, estou na crise dos sete anos de um namoro, assumi o espiritismo, descobri o poder da sombra, quero incontrolavelmente casar e sou quase uma Balzac que ficou pra titia. E quanto mais o tempo passa e tudo passa por mim, menos sei de mim.
Sei que quero ser melhor hoje do que fui ontem e isso eu sei. Mas o resto, fico parada, pensando, tentando saber, mas foge da minha linha de raciocínio, como foge qualquer coisa atrelada a matemática ou a química ou a física ou a biologia. Só gosto mesmo de português. E nem gosto tanto assim a ponto de estudar. Acho que nunca gostei de estudar.
É, se tem uma coisa que o tempo vem me dando de presente é o poder de soltar as amarras a ponto de assumir que nunca gostei de estudar. Mas que amarras são essas? De onde vem? Para quem eu tinha mesmo que provar? Algumas pessoas acreditam até hoje que eu gosto ou que eu me esforço para ser inteligente. Ou será que sou eu que acredito que elas acreditam? Será que já fui descoberta e estou só sendo passada para trás? Será que me achar inteligente ainda é resquício do egocentrismo que penso não ter mais? Não sei. Não importa.
O que é importa é que se alguém ainda acredita, é uma pena. Sei que isso não mais me envaidece. Na verdade me envergonha. Máscaras não fazem mais meu tipo. Não combinam com meu projeto 30 anos. Porque 30 anos é uma idade que merece um projeto, mudanças, que algo extraordinário aconteça, afinal, são 30 anos. É sonoro, bonito, melancólico, quase triste, ou quase alegre. Mas no fundo eu sei que não vai mudar nada. Ou vai? Talvez mude.
Acho que encher a boca pra falar que se tem 30 anos faz com que as pessoas te respeitem mais. Por algum motivo elas ainda misturam idade com maturidade. Será que a etimologia das palavras contribui para isso? Ou seria o sufixo? Não sei. E nesse caso não sei mesmo. Nunca gostei de gramática. Mas repito, gosto de português. Aquele sem regras, que se aprende lendo livros, com um prazer livre, sem censura, ou conjugação verbal. Odeio pretéritos, perfeitos ou imperfeitos.
Só sei que dentro da gente alguma coisa se altera ao chegar perto dos 30. Eu sinto, às vezes. Contraditório? Pode ser. Hoje mesmo assumi que sou uma contradição. E quem não é? Eu prefiro ser, parafraseando Raul, essa contradição ambulante. É menos chato do que a monotonia do ser sempre igual. Embora eu ame uma rotina. Porque também não tenho mais aquela necessidade adolescente de fazer tudo ou qualquer coisa para chamar a atenção. Atenção de quem? Para que? Por quê?
Sou mais eu mesma, quanto mais perto dos 30 chego. E talvez com 40 seja mais eu ainda. Com 50 esteja dentro de mim. Com 60 já seja tão eu que nem me aguente mais, como não me aguentava com 15, 20 anos. Mas se tem uma coisa que também não faço mais é plano. Porque planos frustram a gente e pra que sentir frustração? Tentar controlar o mundo? Não, não tento mais, até porque ando muito cansada para isso. É, chegar perto dos 30 cansa. Mas é só cansaço físico e esse, com algumas boas horas de um bom sono a gente recupera facilmente. Complicado é o cansaço da alma. Aquele de quando os hormônios estão borbulhando e a vontade que se tem é de explodir o mundo ou se explodir. Nem que seja de tesão.
Mas convenhamos, tesão perto dos 30 é bem mais gostoso do que com 15, 20 anos. A gente até pode não ter mais tanta disposição, até porque as novidades diminuem numa escala considerável, mas algumas lapidações só acontecem com a idade. O peito cai, a gente engorda, cria estrias e celulites que não tinha antes, cabelos brancos e rugas aparecem, mas alguma coisa, talvez sem nome ainda, te dá uma certeza de ser gostosa, de trepar bem, fazer gozar e gozar gostoso.
E tudo isso que mencionei antes se torna um detalhe, quase mero, quase irrelevante. Quase porque obviamente a gente tem grilos. Grilo é o bicho que a mulher sabe criar com maestria. Se grilo desse dinheiro, as mulheres seriam os seres mais ricos do mundo. Elas sabem o que grilo come e às vezes fazem questão de alimentá-los bem. E por serem tão sensíveis, nunca deixam os grilos morrerem, por mais que incomodem. Criam melhor os grilos do que os próprios filhos.
E com esse papo de grilo confesso que fiquei um pouco inquieta. As pernas já se mexem sem controle. Os dedos já estão parados por segundos intermináveis a espera de um comando cerebral que os faça escrever algo fantástico. Portanto, para não desgastar esse eu artístico que voltou tão latente, hei de parar por hoje. Talvez amanhã continue, talvez não. Porque se tem uma coisa que venho aprendendo, quanto mais perto dos 30 eu chego, é que só o que é divertido vale a pena fazer.
Não que a gente não tenha que fazer nunca algo sem graça. Tem, principalmente por dinheiro, por mais que não se goste dele. Mas o que eu não vou mesmo é fazer algo sem me divertir, sem ganhar dinheiro. E como escrever não me dá um tostão furado, ainda, não vale à pena perder o meu tempo e o seu com baboseira. Nem para realizar um sonho de quando se tinha 15, 20 anos.
OBSERVAÇÃO NADA IMPORTANTE: Primeiro texto escrito em 3 páginas, sobre os 30 anos que eu farei daqui a quase 3 anos, com 1.253 palavras. O que isso quer dizer? Não sei. Lembra? Só sei que nada sei.

6 comentários:

  1. Me disseram certa vez, Alliny, que a vida começa aos 30... Mas hj em dia vejo q essa frase não está muito precisa... os 30 anos têm lá seu charme, mas vc vai viver com maior intensidade mesmo vai ser a partir dos 40... E o q são 30 0u 40 anos diante dos milhares de anos q nosso espírito tem??? Hummm... depois de escrever isso me senti mais velho... Velho pra caramba...

    Abraços

    Israel Buzatti

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  2. pois é... cada dia que passa percebo isso que você disse... mas diante da eternidade, 30 anos não passam de 30 segundos né... abraços e obrigado pelo comentário.

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  3. Me lembro da ansiedade para os 20, a quase angústia com a proximidade dos 30, o medo assumido dos 40...E hoje, mesmo que eu continue sabendo pouco, descobri que amo meus 40 anos! Adorei o texto! Aproveite demais seus 30 anos e o caminho que ainda tem até encontra-lo! Beijo.

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    1. Dessa ansiedade para os 20 eu também me lembro bem... e acho que como vc vou amar os meus 40 anos... obrigado pelo comentário. Aproveite o blog assim que quiser ;)

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  4. Ei gata, qto tempo.
    Vim lhe dizer que não sou uma jornalista de blogs (cada um na sua, né?) Mas hoje seus textos ocuparam uma parte do meu tempo. Me identifiquei com várias coisas que você disse. E no caso deste texto especificamente, tb nasci em 85 e não ando sabendo de nada!
    Beijos.

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    1. oi gata... qto tempo mesmo... tudo bem???
      que bom que se identificou... deve ser a proximidade dos 30 neah...rs

      beijos... saudades

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