segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A VERDADE É QUE NÃO HÁ VERDADE




Reencontrar bons amigos tem o seu valor, porque te faz repensar conceitos, abrir a mente, olhar o mundo por uma ótica diferente e ainda é possível se aperfeiçoar. E depois deste fim de semana de encontros incríveis, mais um pedacinho de mim sofreu uma pequena mudança que pode ocasionar, no fim das contas, outras pequenas mudanças interessantes, até chegar à revolução que pretendo sobre o entendimento e o uso da verdade.
Sempre vi a verdade como algo contestável e a mentira como uma questão muito mais interpretativa do que de alteração dos fatos. Essa relação entre esses dois lados de uma mesma questão é projetada pelas pessoas baseada em construções distintas, uso também distinto da forma de ver o mundo e das experiências de vida que se adquiriu para conseguir, ou não, enxergar. Mas enxergar o que? O conteúdo de um acontecimento / sentimento, que faça com que ele seja visto como verdade ou mentira.
Eu preferia ver pelo ponto de vista do sentimento. E optava pela verdade ou a mentira de acordo com o que ia causar na pessoa que recebia as minhas palavras (verdadeiras ou mentirosas). Ou o que eu achava que ia causar. Porque independente do que houve, o sofrimento só acontece quando a gente sabe de algo que nos machuca. Quando estamos imersos na ignorância, é impossível sofrer, a menos que se tenha uma capacidade extraordinária para fantasiar. Fantasias essas que são, em geral, bem piores do que a verdade. Nesse caso, eu não perco meu tempo fantasiando.
Também existe a diferença de interpretação sobre o ocorrido. E lidar com ela é bem mais difícil do que escolher entre a verdade e a mentira, porque essa diferença torna tudo relativo. As verdades sobre um mesmo caso não são as mesmas na boca de todas as pessoas. Nem as mentiras. Porque cada um recebe a vida com uma disposição. Tem um jeito. Foi feito de um tipo de barro que absorve ou não o que é jogado.
Há, ainda, pessoas que prefiram lidar com a mentira porque não conseguiriam enfrentar a verdade. Poderíamos nós, vestidos com o conceito quase divino de “usar a verdade acima de tudo”, impor esse enfrentamento? Mesmo quando o outro pede a mentira? Sempre achei que não, mas levava essa premissa tão ao pé da letra que aprendi a gostar mais da mentira, pela cumplicidade que temos. Nós nos entendemos de uma maneira generosa, enquanto a verdade me parece meio carrasca.
Com canta Matanza: “a verdade é que não há verdade”. E devemos reconhecer que também existem as verdades e mentiras temporárias. Porque nós somos seres temporários, que vivemos em ciclos, em eterna mudança. Nesses casos, a verdade ou a mentira são apenas uma questão de lugar no tempo e no espaço, não mais uma diferenciação do que é certo ou errado.
E depois de toda essa reflexão, embora continue nutrindo quase um amor pela mentira, vou deixá-la um pouco de lado. É preciso aprender a lidar com a verdade. Viver com os fatos reais. Entender que o mundo me permite ser verdadeira, mais do ponto de vista dos acontecimentos do que dos sentimentos. Até porque os sentimentos quase sempre são temporários e se existe uma verdade sobre mim, é que aprendi a ser cautelosa, em alguns casos. Nos que a cautela me abandona, geralmente acontece uma tragédia.
Por isso, mundo, a partir de agora só vou falar a verdade, doa a quem doer, com raríssimas exceções. Porque embora eu esteja no meu processo de enfrentamento da verdade, sinto que ainda devo respeitar aqueles que só têm forças para viver em uma doce e suave mentira.

2 comentários:

  1. Interpretação, sentimentos e experiências são únicas e se alteram de pessoa para pessoa.. Mas os fatos continuam sendo os mesmos, a verdade continua sendo a mesma, você achando os fatos bons ou ruins, as coisas acontecem apenas de uma forma!

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  2. será? a interpretação dos fatos não influencia? o sentimento inserido não tem o seu papel?

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