E dentro de mim existe o maior amor do mundo... longo, estranho, angustiado e preso. Dentro de mim existem os maiores sonhos do mundo... longos, estranhos, angustiados e presos. Mas mudei meu jeito de amar e de sonhar. Há um tempo, pouco tempo atrás diria, tudo era mais intenso, dolorido, quase queimava e era quase insuportável. Hoje em dia dói, mas com a tranqüilidade daqueles que entendem, por algum motivo, que Maria Gadú tem razão quando canta “deixa estar que o que tiver que ser vigora”.
É importante em alguma altura da vida reconhecer que birra não serve para nada. Que desespero só contribui para queda de cabelo e gastrite. Que loucura só é aplaudida em contato com a arte. Mas a vida é uma arte, ou não? Se for, a loucura cabe então? E caber é uma palavra que venho usando muito. Essa e quase todas que são derivadas ou sinônimas.
Porque quanto mais perto dos 30 chego, mais percebo que algumas coisas, sentimentos, hábitos e pessoas não me cabem mais. E esse caber é tão natural quanto um jeans que ficou apertado ou largo demais. Confesso que quando se gosta muito de algo, mesmo que não caiba, ainda insistimos em guardar por uma desculpa qualquer. Talvez um dia volte a caber - dizemos a nós mesmos, sabendo que essa é uma das grandes mentiras que contamos. Eu ando preferindo jogar fora de uma vez e colocar o novo no lugar.
Ás vezes me sinto trocando de pele. Descamando. Como se minha alma conseguisse ultrapassar a barreira da epiderme para envolver todo o meu corpo com a sua essência. Para depois se deixar voltar para dentro em busca da proteção que sempre clama, clamou, clamará. Um ciclo. Uma busca. Um anseio desafiador de conviver em um mundo que se tem certeza que não lhe cabe.
Renato achava que não era daqui. Sou capaz de afirmar que eu não sou. Não porque me sinta diferente daqueles que cabem. É só porque sinto que algo atrás dos meus olhos, naquele recanto que raros conhecem, sente a solidão que só quem não pertence pode sentir. Eu não pertenço. A ninguém, a um clube, um grupo, uma tribo. Eu não pertenço nem a esse corpo que me deram para habitar essa Terra. Ele me limita, me trava, me impede de transcender.
E minha alma clama, clamou, clamará sempre por mais espaço, ar, vento, liberdade. E o que é ser livre? O pássaro é livre? O peixe é livre? O leão é livre? Certamente mais livres que eu. E quando me refiro a mim, ainda incluo no pacote minha mente atormentada que estou “desatormentando” e meus sentidos descontrolados que estou controlando. Em busca de quê? Não sei. Só sei que nada sei. Pelo menos descobri que quem disse isso foi Sócrates.
Texto maravilhoso
ResponderExcluirmuito obrigado =D
ResponderExcluirVocê, como muitos artistas, expõe muito bem o que sente! E como muitas outras pessoas, sente a mesma coisa que muitos já sentiram ou sentirão. Não que isso te faça menos especial, excêntrica ou seja qual for o rótulo que queira usar no momento. Não é uma crítica, tão pouco um julgamento, só quero dizer que me identifico..
ResponderExcluirNão entendi como um julgamento... é sempre bom conhecer outros seres que também não são daqui.
ResponderExcluirE assim começa a surgir o despertar lento e gradual da consciência, sua finalidade básica no estágio humano da evolução.
ResponderExcluirum despertar muito interessante por sinal ;)
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