A dor da ausência é quase
inexplicável. Saudade é uma palavra que
criamos para tentar expor o que se passa por dentro, mas às vezes acho que ela
não contempla todo o sentimento. O quanto dói agora é muito mais do que só
sentir saudade. Porque só sentir saudade é quase algo bom e definitivamente não
há bondade nesse mundo que arranque do meu peito e tire da minha garganta esse
aperto que me sufoca e me deixa sem ar. É um sentimento maior que chorar, maior
que perder, maior que qualquer distância que possa existir.
É um soluço que não pára com água. É um
sorriso que não é, nem de longe, feliz. É uma tosse que não é física. Mas o que
é então? É o preço que se paga por se permitir amar tanto alguém, sem
condições, interesses, sem motivos, sem esperar nada em troca. É o preço que se
paga por dar a sua vida pro outro. Por se preocupar mais com alguém do que
consigo mesmo. É o preço que se paga por querer bem demais, mais até do que a
capacidade humana (exceto a capacidade materna) consegue querer bem a alguém.
É tudo tão incerto agora. Ontem você
tava por aqui, ocupando todos os espaços da casa, deixando seu rastro por onde
passava, dando um sorriso ali, uma birra acolá. Hoje é o silêncio que impera e
machuca mais os meus ouvidos do que qualquer grito histérico seu. E o que mais
me faz sofrer não é o egoísmo de querer a sua presença; é não saber o que se
passa com você na sua ausência. É aquela preocupação latente e incessante. É aquela
vontade maior que tudo de saber como você está, como vai a sua vida.
Mais uma vez me pego pensando na
letra de Roberto Carlos como trilha sonora. Eu preciso saber da sua vida. Peça
alguém pra me contar sobre o seu dia. Eu só preciso saber como vai você, se
está comendo direito, tomando banho, indo pra escola, assistindo seu desenho
favorito. Se alguém está te contando história para dormir, embora você quase nunca
tenha dormido comigo. Se alguém está jogando bola com você, embora quase nunca
fosse ao meu lado que você jogava. Se alguém está brincando de esconder embaixo
do cobertor, embora eu saiba que poucas vezes eu estava ali, do seu lado.
Eu sei que não saiu das minhas
entranhas, que não fui eu que gerei, amamentei, dei a luz. E eu sei também que
isso faz a maioria das pessoas não entender o meu amor, a minha preocupação, o
espaço que você ocupa na minha vida e dentro de mim. Confesso que nem eu
entendo direito, que seria mais fácil se você fosse só um parente a mais. Mas o
fato é que nunca amei ninguém tanto quanto amo você e a sua ausência é uma dor
que eu ainda não estou acostumada. Tantas outras já se tornaram amigas e doem
devagar. Dessa eu não sei o que esperar. Talvez espere crescimento e aceitação,
porque impotente demais eu sou pra tentar qualquer outra coisa.
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