quarta-feira, 26 de setembro de 2012

FAZER TÍTULO TAMBÉM CANSA





E chega àquela hora em que tudo te cansa. As pessoas, os sons, as cores, os efeitos. Tudo, absolutamente tudo. Não existe um motivo. O que existe é um peso enorme nos ombros... Ombros que doem mais, quanto mais o tempo passa. E aí você percebe que o cesto é pequeno para tanto lixo. Portanto, é inevitável o transbordamento. Como a gota de água que, mesmo insignificante, faz transbordar o copo cheio.
Quando derrama é que faz sujeira. E a sujeira precisa de alguém para limpar. Mas limpar nem sempre é tarefa fácil. Nem sempre existem pessoas interessadas nesse tipo de serviço, braçal, nojento. Eu não me interesso. A verdade é que hoje é um dia desinteressante. Do tipo que se pode facilmente tirar do calendário, pular, fingir que nunca existiu. Mas ainda nem acabou.
Agora que começou a noite e vou fazê-la ser breve, deitando a cabeça no travesseiro, tentando dormir cedo, bem cedo. Porque hoje definitivamente é um daqueles dias que tenho certeza que não deveria ter, sequer, levantado da cama.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A VERDADE É QUE NÃO HÁ VERDADE




Reencontrar bons amigos tem o seu valor, porque te faz repensar conceitos, abrir a mente, olhar o mundo por uma ótica diferente e ainda é possível se aperfeiçoar. E depois deste fim de semana de encontros incríveis, mais um pedacinho de mim sofreu uma pequena mudança que pode ocasionar, no fim das contas, outras pequenas mudanças interessantes, até chegar à revolução que pretendo sobre o entendimento e o uso da verdade.
Sempre vi a verdade como algo contestável e a mentira como uma questão muito mais interpretativa do que de alteração dos fatos. Essa relação entre esses dois lados de uma mesma questão é projetada pelas pessoas baseada em construções distintas, uso também distinto da forma de ver o mundo e das experiências de vida que se adquiriu para conseguir, ou não, enxergar. Mas enxergar o que? O conteúdo de um acontecimento / sentimento, que faça com que ele seja visto como verdade ou mentira.
Eu preferia ver pelo ponto de vista do sentimento. E optava pela verdade ou a mentira de acordo com o que ia causar na pessoa que recebia as minhas palavras (verdadeiras ou mentirosas). Ou o que eu achava que ia causar. Porque independente do que houve, o sofrimento só acontece quando a gente sabe de algo que nos machuca. Quando estamos imersos na ignorância, é impossível sofrer, a menos que se tenha uma capacidade extraordinária para fantasiar. Fantasias essas que são, em geral, bem piores do que a verdade. Nesse caso, eu não perco meu tempo fantasiando.
Também existe a diferença de interpretação sobre o ocorrido. E lidar com ela é bem mais difícil do que escolher entre a verdade e a mentira, porque essa diferença torna tudo relativo. As verdades sobre um mesmo caso não são as mesmas na boca de todas as pessoas. Nem as mentiras. Porque cada um recebe a vida com uma disposição. Tem um jeito. Foi feito de um tipo de barro que absorve ou não o que é jogado.
Há, ainda, pessoas que prefiram lidar com a mentira porque não conseguiriam enfrentar a verdade. Poderíamos nós, vestidos com o conceito quase divino de “usar a verdade acima de tudo”, impor esse enfrentamento? Mesmo quando o outro pede a mentira? Sempre achei que não, mas levava essa premissa tão ao pé da letra que aprendi a gostar mais da mentira, pela cumplicidade que temos. Nós nos entendemos de uma maneira generosa, enquanto a verdade me parece meio carrasca.
Com canta Matanza: “a verdade é que não há verdade”. E devemos reconhecer que também existem as verdades e mentiras temporárias. Porque nós somos seres temporários, que vivemos em ciclos, em eterna mudança. Nesses casos, a verdade ou a mentira são apenas uma questão de lugar no tempo e no espaço, não mais uma diferenciação do que é certo ou errado.
E depois de toda essa reflexão, embora continue nutrindo quase um amor pela mentira, vou deixá-la um pouco de lado. É preciso aprender a lidar com a verdade. Viver com os fatos reais. Entender que o mundo me permite ser verdadeira, mais do ponto de vista dos acontecimentos do que dos sentimentos. Até porque os sentimentos quase sempre são temporários e se existe uma verdade sobre mim, é que aprendi a ser cautelosa, em alguns casos. Nos que a cautela me abandona, geralmente acontece uma tragédia.
Por isso, mundo, a partir de agora só vou falar a verdade, doa a quem doer, com raríssimas exceções. Porque embora eu esteja no meu processo de enfrentamento da verdade, sinto que ainda devo respeitar aqueles que só têm forças para viver em uma doce e suave mentira.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SOU SIM INCONVENIENTE




Não, não e não. Não vou ser conivente com injustiças. Aceitar que as pessoas usem artimanhas para enganar as outras e a persuasão no sentido mais negativo da palavra. Nem se isso puder me prejudicar de alguma forma. Eu não fui criada assim. Não aprendi a conviver com quem se utiliza de mentira, sensacionalismo e da falta de informação alheia para disseminar fatos inexistentes. Não foi isso que aprendi na minha profissão. Não foi isso que aprendi na vida.
E nem que eu tenha que gastar todas as minhas energias em prol de causas que acredito, vou fazer isso. Porque de que vale viver se for para pautar as atitudes que tomamos na conveniência? Nesse caso, sou sim inconveniente. E espero ser cada vez mais, quanto mais o tempo passe. Porque não admito a possibilidade de ter que ficar em silêncio diante de atos desprezíveis. Não vou jogar um jogo sujo, com trapaças e falcatruas. Eu jogo pra ganhar, sempre, mas jogo limpo, de cara lavada e com a consciência tranquila.
Na verdade, acho até que estão fabricando ultimamente seres humanos sem consciência nenhuma. Sem ética nenhuma. Sem caráter nenhum. Mas lotadas de interesses. E o preço que se paga por ser desinteressado é alto. Mas eu não me importo. Afinal, sou de um mundo onde dinheiro não vale nada. Só o que vale são os valores e princípios que cultivo nessa vida. E é por isso que vou continuar lutando, discutindo, gastando as minhas energias para acabar com essa hipocrisia que rege a nossa sociedade e nossas relações.
Eu sei que não vou conseguir. Não sozinha. Sou só o beija flor tentando apagar o incêndio da floresta. Mas como ele, estou em paz, porque sei que estou fazendo a minha parte.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A FELICIDADE DOS OUTROS ME INCOMODA?




Ontem me deparei com essa pergunta e me obriguei a refletir sobre isso. E por mais que seja difícil assumir uma resposta, não pros outros, mas pra mim mesma, eu acho que sim, que em algumas circunstâncias a felicidade dos outros me incomoda. Principalmente quando afeta a minha própria felicidade, impedindo os meus sorrisos, prazeres, divertimentos. Porque às vezes, as pessoas simplesmente impõem sua condição feliz, sem se preocupar se estão invadindo a possibilidade do outro de ser feliz também.
E quando cheguei a essa conclusão, pensei se estava sendo egoísta. Há algum tempo minha satisfação própria, com a pessoa que estou me tornando, é sustentada por vários fatores: oração diária, meditação, leituras prazerosas e enriquecedoras, falta de conflitos externos e internos, pensamento positivo e a busca constante por algo de bom no outro.
Mas ultimamente, meu tempo escasso e um estresse constante não têm deixado espaço para o cultivo do bem dentro de mim, nem desse olhar de compaixão para o próximo. Não que isso me faça ser mau, necessariamente. Só torna mais difícil controlar esse ser forte, dominador, egocêntrico, impulsivo e raivoso que existe. Aí é hora de fazer merda se a felicidade dos outros estiver incomodando a minha possibilidade de ser feliz.
Nesses casos, a palavra egoísmo surge facilmente, mas numa tentativa de explicar a atitude alheia. A mente fica confusa e a agressividade corrosiva não me deixa lembrar que se enxergo algo em alguém, é porque existe o mesmo em mim. E depois de agir de uma forma repulsiva, é hora de me arrepender e assumir que ainda não sou tão boa quanto gostaria. Uma pena. Eu achava que os processos seriam mais fáceis.
O que me deixa mais tranqüila é saber que tudo que chega fácil demais, perde o valor com a mesma facilidade. Falta base, estrutura, apoio. A cada dia tenho entendido que construir quem se quer ser, é uma tarefa complicada, que requer esforço, vigília, e uma dose cavalar de estudo. E embora eu saiba que vou continuar tropeçando, caindo, me decepcionando profundamente comigo, também sei que vou continuar tentando, porque ser uma pessoa melhor, a cada dia, é só o que me faz levantar da cama. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

EU ME PERMITO




Estou ouvindo músicas do Só Pra Contrariar, banda que eu adorava quando era adolescente e que depois resolvi classificar como brega para que não tirasse de mim aquele status imaginário de alguém culto, que prefere letras profundas e nada superficiais. Me permitia, no máximo, ouvir superficialidades alternativas, já que tudo que é alternativo passou a ser considerado como “cult”. E é importante que já tenha refletido sobre ser ou não superficial para que o uso dos conceitos seja feito com certa clareza.
Não vejo mais problema em assumir que gosto de pagode. Até dos melosos, da época em que eu tinha 14, 15, 16 anos. Os melosos atuais são meio insuportáveis, porque falam de amores comuns, recheados de dores de corno e definitivamente não gosto de nada que seja muito corriqueiro ou que se utilize de dramas baratos. Os antigos, de 10 anos atrás também falam desse tipo de amor, mas me lembram a adolescência, uma das melhores fases da minha vida e de saudosismo, definitivamente, eu gosto muito.
Quando se é adolescente, pelo menos no meu caso, se absorve o que está na moda quase que por osmose e se assume esse gosto generalizado porque é preciso pertencer a um grupo, uma tribo, um aglomerado de pessoas que te aceitem como você é, mesmo que “o como você é” seja apenas uma criação necessária para não ser diferente. Eu queria fazer parte do grupo, na verdade, de vários grupos diferentes, então desde que aprendi o significado da palavra “eclética”, preguei esse rótulo em mim.
Com o passar do tempo fui afunilando meus gostos de acordo com o grupo que era mais interessante. Se ser considerada louca me agradava, era com os loucos que eu andava. E ouvia música Só Para Loucos, caretas não. E me comportava com o máximo de extravagância possível, porque os loucos não se importam. E por um tempo foi bom ser assim. Assumir uma postura anti social, radical, anarquista, revoltada. É preciso ser rebelde quando se é adolescente ou pré-adulto. Mas é preciso deixar de ser algum dia para não cair no ridículo.
Depois assumi a minha fase gay e todo meu discurso girava em torno disto. O arco íris era a minha bandeira. O lema era: Se joga pintosa, põe rosa. E eu me joguei. Me joguei nas festas, nas amizades restritas a esse grupo, as músicas de cantoras lésbicas da MPB, aos seriados de TV com casais homo e aos lugares onde eu podia agarrar a minha namorada sem nenhum pudor. E foi muito bom, libertador, essencial para o momento que estava vivendo.
Acho que agora estou na fase: Projeto 30 anos. E isso começou quando resolvi mudar meu modo de viver, não quando decidi fazer um blog. O começo do meu Projeto 30 anos foi o item: emagrecer é preciso. E com caminhada, o acréscimo de legumes e verduras a alimentação, a restrição as carnes, a redução no consumo de bebidas alcoólicas e do cigarro, e o mais importante de tudo, a morte de muitos grilos, muitos quilos também se foram e muitos mais irão no decorrer desse processo. Aos 30 quero estar no auge da gostosura para fazer o book que não fiz aos 15 anos. É, essa é uma das minhas grandes frustrações.
Mas o ponto mais importante desse projeto é: olhar para dentro. E com esse novo direcionamento dos olhos, estou conhecendo, descobrindo uma Alliny que tenho gostado bastante, principalmente porque sou capaz de admirá-la. Essa parte de mim que estava escondida de mim mesma é bem mais interessante, embora bem menos intensa, porque não está mais na fase da loucura. Também não está na fase gay, latente, que respira a sigla LGBT. Embora continue atuante quanto a defender os direitos dos homossexuais e daqueles que tem uma sexualidade diferente dos padrões sociais aceitos.
A fase em que me encontro agora é de autoconhecimento, reflexão, intimidade. E essa intimidade comigo me permite assumir também que gosto de pagode e sertanejo, do tipo safadinho. Me permite discordar de opiniões que antes não me atreveria, pelo pedestal em que colocava as pessoas que as emitia. Me permite abrir mão de pensamentos generalizados para formar meus próprios conceitos. E me permite, finalmente, fazer só o que EU realmente quero, porque o que os outros querem, acham ou precisam, sinceramente não importa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

SIM, EU SOU SUPERFICIAL




É, de certa forma devo concordar que sou superficial. Principalmente se me comparar com aqueles que têm a sua essência em poços profundos. Não é o meu caso. Minha essência realmente está na superfície, à flor da pele, ala Zeca Baleiro. É palpável, visível, quase transparente. Transborda da retina, do couro cabeludo, da ponta dos dedos e da língua. Quer ser tocada, sentida, vista. Quer tocar, sentir e ver. É só a ponta do iceberg.
E não tenho mais a intenção de disfarçar minha superficialidade, tentando parecer o que não sou, saber o que não sei, entender do que realmente não entendo. Isso fazia com 15, 20 anos e só o que consegui foram interpretações erradas ao meu respeito, que frustram aqueles que esperam de mim uma profundidade que não existe. Ou até existe, mas está escura, imóvel, guardada. Inacessível para mim, para você, pro mundo, menos para Deus.
É uma questão de contato, ligação, espiritualidade. Não tem nada haver com o real, com questões filosóficas. Nada sei de filosofia, embora faça muita questão de saber. Quando der, se der. E enquanto escrevo percebo que não tenho mais problema de relacionamento com a palavra superficialidade. Estou até conseguindo enxergá-la de um ponto de vista diferente, positivo. Antes dessa proximidade com os 30 eu me sentiria ofendida de ouvir de alguém que meus textos são superficiais. Principalmente vindo de quem me conhece tanto, me entende, me aceita e que gosto infinitamente.
Mas agora, diante da possibilidade e do desarmamento que me proporcionei perante a superficialidade, me sinto tranquila de assumir, acatar, absorver comentários que me abrem os olhos. SIM, EU SOU SUPERFICIAL. E de um jeito que nunca fui antes. Porque antes era uma mentira. Agora me inundo de verdades, quaisquer que sejam, mesmo que elas me dispam na frente de tantos que antes me viam cheia de roupas, máscaras, armaduras.
Essa troca de pele, fechamento de ciclo, esse caminho para os 30 anos, tem me dado a liberdade de SER que nunca tive, embora gritasse a plenos pulmões que não aceitava amarras ou imposições sociais. Mas eu mesma me prendia e me impunha uma Alliny criada. Uma fantasia que vesti por muito tempo e que hoje não me cabe mais. Acho até que nunca coube. E provavelmente vinha daí minha falta de ar constante, o aperto no peito, a postura artificial. MAS AGORA EU QUERO RESPIRAR. E não há nada, nem o risco de ser superficial, que me faça abrir mão da nudez.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

NÃO ME CABE.




E dentro de mim existe o maior amor do mundo... longo, estranho, angustiado e preso. Dentro de mim existem os maiores sonhos do mundo... longos, estranhos, angustiados e presos. Mas mudei meu jeito de amar e de sonhar. Há um tempo, pouco tempo atrás diria, tudo era mais intenso, dolorido, quase queimava e era quase insuportável. Hoje em dia dói, mas com a tranqüilidade daqueles que entendem, por algum motivo, que Maria Gadú tem razão quando canta “deixa estar que o que tiver que ser vigora”.

É importante em alguma altura da vida reconhecer que birra não serve para nada. Que desespero só contribui para queda de cabelo e gastrite. Que loucura só é aplaudida em contato com a arte. Mas a vida é uma arte, ou não? Se for, a loucura cabe então? E caber é uma palavra que venho usando muito. Essa e quase todas que são derivadas ou sinônimas.

Porque quanto mais perto dos 30 chego, mais percebo que algumas coisas, sentimentos, hábitos e pessoas não me cabem mais. E esse caber é tão natural quanto um jeans que ficou apertado ou largo demais. Confesso que quando se gosta muito de algo, mesmo que não caiba, ainda insistimos em guardar por uma desculpa qualquer. Talvez um dia volte a caber - dizemos a nós mesmos, sabendo que essa é uma das grandes mentiras que contamos. Eu ando preferindo jogar fora de uma vez e colocar o novo no lugar.

Ás vezes me sinto trocando de pele. Descamando. Como se minha alma conseguisse ultrapassar a barreira da epiderme para envolver todo o meu corpo com a sua essência. Para depois se deixar voltar para dentro em busca da proteção que sempre clama, clamou, clamará. Um ciclo. Uma busca. Um anseio desafiador de conviver em um mundo que se tem certeza que não lhe cabe.

Renato achava que não era daqui. Sou capaz de afirmar que eu não sou. Não porque me sinta diferente daqueles que cabem. É só porque sinto que algo atrás dos meus olhos, naquele recanto que raros conhecem, sente a solidão que só quem não pertence pode sentir. Eu não pertenço. A ninguém, a um clube, um grupo, uma tribo. Eu não pertenço nem a esse corpo que me deram para habitar essa Terra. Ele me limita, me trava, me impede de transcender.

E minha alma clama, clamou, clamará sempre por mais espaço, ar, vento, liberdade. E o que é ser livre? O pássaro é livre? O peixe é livre? O leão é livre? Certamente mais livres que eu. E quando me refiro a mim, ainda incluo no pacote minha mente atormentada que estou “desatormentando” e meus sentidos descontrolados que estou controlando. Em busca de quê? Não sei. Só sei que nada sei. Pelo menos descobri que quem disse isso foi Sócrates.

sábado, 1 de setembro de 2012

SÓ SEI QUE NADA SEI





Daqui a três anos serei uma Balzac. O que isso quer dizer? Pode usar esse termo no feminino? O Word está me dizendo que não. Uma amiga me contou que significa fazer 30 anos e eu acreditei nela. Acreditei em várias coisas que me disse. Nem por isso todas se concretizaram. Mas ela gostava de se denominar como a Dona da Verdade. Quem sou eu pra retrucar? Ou duvidar? Ninguém. E quanto mais o tempo passa, mais perco aquele egocentrismo que muitas vezes era a única coisa em mim que chamava a atenção das pessoas. O que vai substituí-lo? Não sei. Só sei que nada sei e na verdade nem me lembro quem disse isso. E isso, para ser muito sincera, não me interessa.
Não tenho medo de fazer 30 anos. Sei que muitas mulheres se descabelam, mas pra mim, acho que vai ser natural. Como algo que se faz naturalmente: andar, comer, falar, trepar. É, eu tinha que falar trepar. Desbocada é outro adjetivo que tenho na boca de muitos. E quem sou eu para dizer que eles estão errados? Ninguém. Só sei que nada sei. Só sei que, se virou senso comum, deve fazer sentido. Não dizem que a voz do povo é a voz de Deus? Quem disse isso? Não preciso repetir que não sei, nem que só sei que nada sei, ou preciso? Faz tanto sentido quanto a rosa falsificada que perde as pétalas. Que largam o centro, amarelo sol de verão, a pino, no centro, no meio do mundo, no teto.
Incrivelmente hoje me senti inspirada. Por quê? Não sei. Sei que nada sei e quando se trata de mim, sei menos ainda. E é estranho porque aprendi a meditar, fiz seminário hare krishna, decorei mantras, me formei na faculdade, estou na crise dos sete anos de um namoro, assumi o espiritismo, descobri o poder da sombra, quero incontrolavelmente casar e sou quase uma Balzac que ficou pra titia. E quanto mais o tempo passa e tudo passa por mim, menos sei de mim.
Sei que quero ser melhor hoje do que fui ontem e isso eu sei. Mas o resto, fico parada, pensando, tentando saber, mas foge da minha linha de raciocínio, como foge qualquer coisa atrelada a matemática ou a química ou a física ou a biologia. Só gosto mesmo de português. E nem gosto tanto assim a ponto de estudar. Acho que nunca gostei de estudar.
É, se tem uma coisa que o tempo vem me dando de presente é o poder de soltar as amarras a ponto de assumir que nunca gostei de estudar. Mas que amarras são essas? De onde vem? Para quem eu tinha mesmo que provar? Algumas pessoas acreditam até hoje que eu gosto ou que eu me esforço para ser inteligente. Ou será que sou eu que acredito que elas acreditam? Será que já fui descoberta e estou só sendo passada para trás? Será que me achar inteligente ainda é resquício do egocentrismo que penso não ter mais? Não sei. Não importa.
O que é importa é que se alguém ainda acredita, é uma pena. Sei que isso não mais me envaidece. Na verdade me envergonha. Máscaras não fazem mais meu tipo. Não combinam com meu projeto 30 anos. Porque 30 anos é uma idade que merece um projeto, mudanças, que algo extraordinário aconteça, afinal, são 30 anos. É sonoro, bonito, melancólico, quase triste, ou quase alegre. Mas no fundo eu sei que não vai mudar nada. Ou vai? Talvez mude.
Acho que encher a boca pra falar que se tem 30 anos faz com que as pessoas te respeitem mais. Por algum motivo elas ainda misturam idade com maturidade. Será que a etimologia das palavras contribui para isso? Ou seria o sufixo? Não sei. E nesse caso não sei mesmo. Nunca gostei de gramática. Mas repito, gosto de português. Aquele sem regras, que se aprende lendo livros, com um prazer livre, sem censura, ou conjugação verbal. Odeio pretéritos, perfeitos ou imperfeitos.
Só sei que dentro da gente alguma coisa se altera ao chegar perto dos 30. Eu sinto, às vezes. Contraditório? Pode ser. Hoje mesmo assumi que sou uma contradição. E quem não é? Eu prefiro ser, parafraseando Raul, essa contradição ambulante. É menos chato do que a monotonia do ser sempre igual. Embora eu ame uma rotina. Porque também não tenho mais aquela necessidade adolescente de fazer tudo ou qualquer coisa para chamar a atenção. Atenção de quem? Para que? Por quê?
Sou mais eu mesma, quanto mais perto dos 30 chego. E talvez com 40 seja mais eu ainda. Com 50 esteja dentro de mim. Com 60 já seja tão eu que nem me aguente mais, como não me aguentava com 15, 20 anos. Mas se tem uma coisa que também não faço mais é plano. Porque planos frustram a gente e pra que sentir frustração? Tentar controlar o mundo? Não, não tento mais, até porque ando muito cansada para isso. É, chegar perto dos 30 cansa. Mas é só cansaço físico e esse, com algumas boas horas de um bom sono a gente recupera facilmente. Complicado é o cansaço da alma. Aquele de quando os hormônios estão borbulhando e a vontade que se tem é de explodir o mundo ou se explodir. Nem que seja de tesão.
Mas convenhamos, tesão perto dos 30 é bem mais gostoso do que com 15, 20 anos. A gente até pode não ter mais tanta disposição, até porque as novidades diminuem numa escala considerável, mas algumas lapidações só acontecem com a idade. O peito cai, a gente engorda, cria estrias e celulites que não tinha antes, cabelos brancos e rugas aparecem, mas alguma coisa, talvez sem nome ainda, te dá uma certeza de ser gostosa, de trepar bem, fazer gozar e gozar gostoso.
E tudo isso que mencionei antes se torna um detalhe, quase mero, quase irrelevante. Quase porque obviamente a gente tem grilos. Grilo é o bicho que a mulher sabe criar com maestria. Se grilo desse dinheiro, as mulheres seriam os seres mais ricos do mundo. Elas sabem o que grilo come e às vezes fazem questão de alimentá-los bem. E por serem tão sensíveis, nunca deixam os grilos morrerem, por mais que incomodem. Criam melhor os grilos do que os próprios filhos.
E com esse papo de grilo confesso que fiquei um pouco inquieta. As pernas já se mexem sem controle. Os dedos já estão parados por segundos intermináveis a espera de um comando cerebral que os faça escrever algo fantástico. Portanto, para não desgastar esse eu artístico que voltou tão latente, hei de parar por hoje. Talvez amanhã continue, talvez não. Porque se tem uma coisa que venho aprendendo, quanto mais perto dos 30 eu chego, é que só o que é divertido vale a pena fazer.
Não que a gente não tenha que fazer nunca algo sem graça. Tem, principalmente por dinheiro, por mais que não se goste dele. Mas o que eu não vou mesmo é fazer algo sem me divertir, sem ganhar dinheiro. E como escrever não me dá um tostão furado, ainda, não vale à pena perder o meu tempo e o seu com baboseira. Nem para realizar um sonho de quando se tinha 15, 20 anos.
OBSERVAÇÃO NADA IMPORTANTE: Primeiro texto escrito em 3 páginas, sobre os 30 anos que eu farei daqui a quase 3 anos, com 1.253 palavras. O que isso quer dizer? Não sei. Lembra? Só sei que nada sei.