quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O essencial das inspirações



Toda essa semana vem sendo um aprendizado. Todos os dias que já se passaram me deixaram marcas e reflexões profundas. Talvez seja essa energia de ensinamento que tem me deixado melancólica. E melancolia nesse caso não tem o significado que tinha antes. Antes, estar melancólica era algo muito ligado a uma tristeza profunda, enraizada, latente. Hoje, a melancolia é só um traço da minha personalidade que aceito, entendo e respeito.
Na segunda feira aprendi a melhor maneira de receber um abraço, vindo de alguém que chorava compulsivamente por ter perdido um ente querido. Esse abraço me fez perceber que eu preciso me entregar mais. É ontem ouvi que estou um tanto fria e tive que concordar. Meu escudo contra um apego desmedido às pessoas é certo distanciamento. Não de corpo, mais de carinhos, contatos além dos físicos. E por mais que eu não queira de verdade, é o que me parece que deve ser feito. Isso não diminui meu amor e minha preocupação. Só atenua a falta que elas podem me fazer. Essa falta, a saudade, sempre foi o motivo das maiores dores.
Também entendi um pouco mais sobre compreensão e o fato de se colocar no lugar do outro. Abrir mão do que se precisa porque o outro precisa mais. Essa lição para mim é um gesto de caridade imenso. E refletindo sobre caridade, comecei a entender as diversas maneiras que temos para fazer o bem a alguém. E eu recebi bens enormes esses dias, que não há nada de material que pague, que se assemelhe ou que substitua. Só posso agradecer.
Até mesmo as conversas difíceis da semana e as conclusões doloridas foram importantes. Percebi finalmente que quando amamos alguém de verdade, não é preciso reciprocidade. O amor vai continuar ali mesmo que não haja uma troca ou que o que ele receba de volta seja de outra maneira, outra intensidade, outro nível. E conseguir sentir amor é a maior dádiva que alguém pode receber. Por isso me sinto honrada por entender finalmente o que é querer ver a felicidade de alguém desinteressadamente.
No fim das contas e no fim do texto, acho até que o mundo pode acabar, pelo menos o meu. Essa existência tem me transformado tanto. Abrindo meus olhos, endireitando meu caminho, moldando meus conceitos. Sou melhor, muito melhor do que já fui um dia e tenho muito orgulho disso. Um orgulho humilde, que entende que ainda há muito para saber, pra reformar em mim, pra consertar no meu caráter. Mas a obra está em andamento, finalmente.  E agora não deixo mais passar uma oportunidade sequer de fazer os meus reparos.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ORAÇÃO


Senhor, no silêncio dessa prece
venho pedir-te a paz, a sabedoria e a força
quero hoje olhar o mundo com os olhos cheios de amor
quero ser compreensiva, mansa e prudente
quero ver além das aparências humanas
teus filhos como Tu mesmo veste
e tão bem cada um deles
cerra meus ouvidos de toda calúnia
guarde a minha língua de toda maldade
e só de bençãos se encha o meu espírito
para que eu seja tão bondosa e alegre
que todos quando chegarem a mim, sintam a sua presença
revele-me a sua beleza Senhor, no percurso deste dia
e que eu não te ofenda e te revele a todos
glória a Deus nas alturas
paz na Terra aos homens e as mulheres de boa vontade
Que assim seja.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

SOLIDÃO E SILÊNCIO




Definitivamente solidão para mim é um problema. É quase uma situação apavorante. E por inocência imaginei que conforme o tempo fosse passando, isso mudaria. Santa ingenuidade. Continua tudo igual. Acho até que antigamente eu conseguia lidar melhor com o fato de estar sozinha por associar esse momento à liberdade. Hoje não faço mais essa associação e por consequência não há nada que amenize esse drama.
Como posso querer morar só se uma manhã de abandono já faz lágrimas saltar dos olhos? Imagine passar um dia todo e outro e o outro e o seguinte sem companhia. Penso nisso e me dá calafrios. E não é por medo. Convivo bem com fantasmas, bicho-papão e o monstro do armário. É por tristeza. É, tristeza. Eu fico triste na maior parte do tempo em que estou sozinha.
E isso não significa que a convivência comigo mesma é difícil ou insuportável. Muito pelo contrário. Não preciso dos outros para ser feliz. Ou será que preciso? Agora me surgiram uma dúvida terrível e um medo maior ainda desse apego. De fato aprendi a me virar sozinha, mas talvez eu não me baste. Talvez o que me apavore seja esse silêncio que abre espaço para as vozes da minha mente falarem tudo que eu não quero ouvir.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

AINDA ADOLESCENTE?



Ontem me disseram que eu tinha que parar com as minhas reações de adolescente. E por um instante me senti até ofendida com esse conselho por achar que, na altura dos meus quase 28 anos, não deveria agir, pensar, me comportar como uma garota. Mas depois refleti sobre isso. E comecei a achar que ser comparada com uma adolescente pode ser até um elogio. É me senti elogiada.
Acho que realmente ainda existem em mim algumas características dessa etapa da vida que não pretendo perder. O frescor é uma delas. Isso não significa que eu não venha aquecendo. Sim, como todo mundo. Mas talvez um pouco menos que a maioria das pessoas. E esse frescor, ser fresquinha no sentido jovial da palavra, me traz a esperança juvenil no futuro e tira um pouco do peso que os anos colocam nas minhas crenças quase ilusórias.
Também me sinto eufórica como quando tinha 15 anos. E essa euforia me faz até dar gritinhos e pulinhos típicos das adolescentes quando algo bom acontece. E não sei se quero perder essa capacidade de sentir os momentos com todas as minhas células e expor com todas as manifestações corporais possíveis. Eu sou a expressividade e a entrega e não vai ser a maturidade que vai me recatar.
Ainda reconheço... (não sei o que reconheço). O cursor ficou parado por minutos intermináveis tentando achar mais comparações entre esta quase trintona que vos fala e uma adolescente que nem fez 20 anos. Acho que vou ter que reconhecer que, embora quisesse muito ter mais coisas para falar, a falta de verdade nisso vai me obrigar a calar e parar este texto por aqui. Porque por mais que dentro da minha alma alguns pontos ainda se mantêm jovens, outros já foram envolvidos pelo passar dos anos.
Eu mudei. Todos mudam afinal. E ás vezes é bom perceber a maturidade controlando a fera que vem de dentro. É bom perceber que conforme a gente cresce, cordas que nos amarram vão sendo cortadas. Mas se existe algo importante para mim, que devo reconhecer, é o quanto a fragilidade adolescente se faz presente diante do amor. O amor que me tira a segurança, a opinião formada, o olhar firme, a voz forte e o andar preciso. E me deixa desengonçada, como uma garotinha, travada e trêmula, que faz e fala um monte de besteira por simplesmente não saber o que fazer.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

DAS ANTIGAS




Recentemente uma amiga, das antigas, postou fotos na internet, também das antigas, de um tempo feliz, sadio, cheio de farra, amigos e sorrisos. Eu tinha 14, 15, no máximo 16 anos nas imagens. E por momentos intermináveis fiquei olhando para mim, pras pessoas a minha volta, relembrando uma época que vai sempre deixar muita saudade. Primeiro porque é adolescência e essa fase é única. Segundo pelas pessoas, que também foram únicas.
Daí resolvi remexer as caixas aqui de casa, onde as minhas fotos antigas estavam guardadas. E achei tanta coisa. Tanta coisa ali, tanta coisa aqui, dentro de mim. Inundei-me de sentimentalismo. Agarrei o saudosismo e fiquei apertando-o contra o peito durante horas. Redescobri um passado marcado pelas histórias vividas, não-vividas, arrependidas. Redescobri um pouco mais de quem eu fui e isso me fez pensar bastante em quem estou me tornando.
De qualquer forma, entendi como sou feliz, todo o tempo. Sou privilegiada por todas as experiências que já vivi, todas que tenho vivido atualmente e isso me dá uma certeza tão absoluta de que vou me manter assim, feliz com as experiências que ainda vou viver. E me dá forças para buscar essa felicidade da única forma que vale a pena: melhorando a mim mesma para poder melhorar o meu mundo. 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

No meio do caminho




No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do meu caminho. Além de pedra, preconceito, desconhecimento e uma ignorância tremenda acerca da vida de um homem.  Um mito que conhecemos como Carlos Drummond de Andrade. Lembro das aulas de literatura, os livros que fazem questão de não ser criativos e mostrar uma faceta única de escritores brilhantes. Facetas que às vezes ofuscam sua estrela e acabam afastando a apreciação das pessoas pela sensibilidade do restante de sua obra.
Confesso que ainda não gosto da pedra no meio do caminho, apesar de na maturidade dos meus 27 anos, pelo menos dez a mais do que quando o li pela primeira vez, já entendo seu contexto e admiro o conjunto. O ato heróico e a liderança do movimento modernista em Minas Gerais e todo escândalo que gerou já são levados em consideração pela minha pessoa. Na verdade, hoje me sinto quase que envergonhada de todas as vezes que critiquei Drummond, sem sequer conhecê-lo. A pedra acabou sendo mesmo um obstáculo no meu aprendizado e um desvio no caminho que depois trilhei em busca de concretizar cada vez mais a admiração incomensurável que agora sinto diante desse mestre.
Hoje em dia o vejo como um ídolo. Um ideal que não busco alcançar, porque sei das minhas limitações e em contra partida, sei da grandeza dos seus escritos. Mas de fato é uma inspiração, uma alegria, quase uma comoção quando me permito dedicar horas a leitura de seus poemas. O que Drummond escreve alcança minha alma de uma forma peculiar. Expande minha forma de ver o mundo, minha compreensão diante de fatos que ele, rebuscado ou simples, descreve tão bem.
Acho que nesse momento cabe um belo exemplo.

O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo.

            Ele que chegou a ser Ministro da Educação, escrevia para um jornal escolar aos 16 anos. Já na adolescência, mostrava afinidades com o português e sensibilidade para pincelar as palavras e colocá-las em seu devido lugar. Quase como se elas só pudessem estar ali, onde Drummond escolheu. Um quebra cabeças que ele montava com perfeição. Mas aos 17 anos foi expulso do colégio por conflitos com o professor de Português. Fico pensando, anos depois, nos sentimentos desse mesmo professor ao ler a poesia que escolhi para ilustrar meu texto. Acho que se pudesse refazer o passado, ele teria abaixado a voz para não acordar Drummond dos sonhos que tinha.
            Talvez esse episódio tenha feito com que Carlos Drummond de Andrade abandonasse por um tempo as letras e se dedicasse a profissão de farmacêutico. Mas os remédios convencionais não curavam suas dores. Veio à decepção com a farmácia e a busca de novos curativos. Livros, textos, poemas se tornaram a válvula de escape mais freqüente desse homem que falava tão bem das emoções humanas. Todas elas. Boas ou ruins. Que amedrontam ou trazem sentido a existência.
            Drummond, assim como eu, era mineiro. Ele é nascido no dia 31 de outubro de 1902, filho dos fazendeiros Carlos de Paula Andrade, de quem herdou o primeiro nome e Julieta Augusta Drummond de Andrade, que inspirou o segundo nome daquela que seria o amor de sua vida: a filha Maria Julieta. Foi em uma cidadezinha perto da capital, Itabira do Mato Dentro, que já se chamou Presidente Vargas, mas agora é denominada de Itabira, apenas, que Carlos nasceu e viveu sua infância e parte da adolescência. A cidade é conhecida pelos seus habitantes como cidade da poesia ou cidade do ferro. O poeta descreve:

Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
É doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

E entre os dois mil e quinhentos moradores aproximadamente, ele se sobressaiu, com a capacidade de levar ao mundo seu vasto conhecimento sobre as dores e as delícias do mundo. Delícias sim, de um amor natural, que sentia pela esposa Dolores Dutra de Moraes e pela namorada Lygia Fernandes, com quem manteve um romance paralelo ao casamento, por 35 anos. Alguém que entendia tanto de amor, só poderia vivê-lo na sua plenitude.
Todos esses sentimentos deram origem a um livro, “Amor Natural”, que só foi lançado em 1992 e gerou polêmica pelas poesias ditas pornográficas. Eu as chamaria de poesias eróticas escritas com elegância:

A língua girava no céu da boca.
Girava!
Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.

            E a vida menor que reponta primeiro é Carlos Flávio, que nasceu em 21 de março de 1927, mas viveu apenas meia hora, porque foi asfixiado pelo cordão umbilical. José Maria Cançado, em sua biografia sobre Drummond, diz que o escritor não fala sobre o filho nas suas obras. Nem mesmo o poema que se inicia com os versos “O filho que não fiz / Hoje seria homem” seria para Carlos Flávio. Pela minha compreensão, imagino que Drummond tenha ficado em estado de choque, atônito com a tragédia que alcançou sua família.
Todo amor que daria para o filho, ele canalizou. Praticamente um ano depois nasce Maria Julieta Drummond de Andrade, no dia 04 de março de 1928, sob o signo de peixes. (Mesmo ano em que Drummond lançou o poema ”No Meio do Caminho”. Soou como uma ironia para mim.) Isso me arrancou um suspiro de alegria, porque também sou pisciana, do dia 12 de março. E piscianos tem essa tendência melosa, com sensibilidade a flor da pele e um entendimento entre os pares que é único. Por isso quero me atrever a falar que compreendo um pouco do que devia ser a relação dessa mulher com o pai. Admiração profunda é o termo correto nesse caso.
Aquele amor canalizado encontrou o momento certo para se doar e de amor e doação foi construída a relação pai e filha que tanto me emociona. Queria eu ter tido um pai assim. O que ele sentia por ela era tão intenso, que morreu 12 dias depois de Maria Julieta não resistir ao câncer. Foi-se o poeta, ficaram as obras e a certeza de que viver só vale a pena se for intensamente.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

CAMINHANDO SOZINHA



Hoje, enquanto caminhava e orava, senti uma dor profunda ao perceber que os momentos em que mais preciso de presença, são os que mais me sinto sozinha. E por mais que o tempo passe, se tem uma coisa que ainda não aprendi, é a conviver com a solidão. Essa solidão dos incompreendidos. Dos que gritam sem ser ouvidos. Dos que sofrem calados para não incomodar. Dos que procuram incessantemente olhos compreensivos.
Antes eu me sentiria livre para pedir colo. Hoje, não mais. Meu ombro amigo é o travesseiro. Meus conselhos estão nos livros. O abraço aconchegante é do urso de pelúcia. Meu refúgio só encontro em Deus. Procuro a minha fé que anda tão encolhida num canto qualquer em mim, por medo de se expor de novo e mais uma vez não achar o caminho, ou as respostas. Ela ainda existe e quer se fortalecer, mais do que qualquer outra coisa.
Porque muitas vezes, esperança no futuro foi só o que me fez continuar. Essa certeza de que em algum momento vai dar certo. Eu quero acreditar. Voltar a acreditar. Achar a certeza inabalável de que o que é meu está guardado e que só preciso ter um pouco mais de paciência. Mas o mundo não é paciente comigo. Ele me cobra. E eu me sinto sem ar, buscando uma forma de respirar simplesmente.
Pai, eu te peço só um pouco de consolo, para continuar o caminho, sem esmorecer. Principalmente num dia como esse, em que estar sozinha e me sentir sozinha é o fardo mais pesado entre todos os outros.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

CASULO



Num mundo repleto de seres que, passam a vida enclausurados dentro de seus próprios casulos, percebo que já virei borboleta há muito tempo. E o fato de ser borboleta faz com que eu ouça sempre conselhos sobre não me expor demais. E sempre que isso acontece, eu me pergunto: porque se expor é um problema? Porque para se viver temos que pautar nossas atitudes dentro de um contexto social que oprime e faz com que as pessoas queiram, cada vez mais, morar dentro de si mesmas?
Não faz sentido. E como tudo que escolho na vida tem que fazer algum sentido, eu escolhi me mostrar e vai ser assim até que me apontem uma razão para o contrário. Porque não tenho motivos para me esconder, me camuflar, fingir ser o que não sou ou me pintar de uma cor que não combina comigo. Sou um arco-íris, prestes a tocar o céu, com um baú de ouro disponível para quem quiser.
E quem quiser deve saber muito bem que não passo de ouro de tolo. Porque a minha transparência, que mostra as veias pela brancura da pele, também mostra a alma para quem tem sensibilidade. E por mais que eu ainda seja uma alma em lapidação, não tenho vergonha das minhas manchas, dos meus erros e dos meus defeitos todos. Eles existem e quem quiser que lide com eles.
Assim fica mais sincera uma relação. As pessoas devem saber com quem estão lidando, para terem a opção de escolher se querem ou não esse alguém nos seus ciclos todos. Quando nos fechamos, enganamos os outros. E enganar os outros só não é pior do que enganar a si mesmo. Portanto, lagartas, não desperdicem a oportunidade de se tornarem borboletas. Voar e ser livre compensa todos os ventos de tempestade.

domingo, 14 de outubro de 2012

PANDEMÔNIO.




E quando se pensa ter achado seu centro, o norte, aquele caminho certo que deve ser percorrido para a plenitude, vem à vida, com um vento de tempestade, e coloca tudo fora de lugar. Você descobre o quanto suas novas conquistas pessoais estavam sendo postas sobre areia movediça. Percebe como ainda falta uma ligação entre o que é essencial e o que pode e deve ser alterado. Voltamos boa parte do caminho tentando achar respostas para perguntas que antes não existiam.
Internamente, confusão é a palavra que pode se aproximar da definição exata. E quando assumo isso para mim, noto como me movimento em ciclos, como mariposa em volta da lâmpada, pensando em alcançar a luz, sem perceber que todo seu esforço sempre a leva de volta para o mesmo lugar. Sempre de fora. Nunca por dentro. Sempre buscando. Perto. Nunca, de fato, sentindo nas pontas dos dedos. E a falta desse pouco que nunca chega é a forma mais cruel de tortura.
É um peso que beira o insuportável. Que exige uma lucidez que ainda não possuo e um entendimento sobre mim que as pessoas ainda não têm. E quando se mistura tanto transtorno e problema de comunicação, abre-se a porta para o pandemônio. É muita voz querendo falar. É muito gesto querendo se expor. É muita verdade que não me serve. E eu me sinto como alguém que leva tomates na cara por simplesmente ser mal interpretado.

Não que doa necessariamente. Mas é nítida a impressão de sair suja de todo o processo. Um processo lento, sem muito fôlego, como quase tudo que faço e que fiz. Só me recuso a terminar a conjugação no futuro, porque ainda acredito numa capacidade interna de encontrar esse ar que preciso para viver, para prosseguir, para deixar fluir. Mais um ciclo está terminando. Confesso que não ando muito curiosa para passar pelo próximo looping.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O QUE A GENTE FAZ POR DINHEIRO?




Mais uma vez, como num ciclo que se repete na minha vida, meus princípios são colocados a prova. É como se alguém me testasse para saber o que sou capaz de fazer por dinheiro, por uma colocação profissional, por poder. Como se me comparassem com esse amontoado de gente que se vende por migalhas, trocados. Como se quisessem colocar preço no meu silêncio. E quando isso acontece, eu sinto uma tristeza terrível de me ver sendo julgada por muitos como igual, como se fizesse parte desse mesmo lixo humano.
É preciso que as pessoas entendam que no mundo de onde eu vim e para onde vou voltar o dinheiro não existe. Portanto, para mim, ele só é uma necessidade de sobrevivência. Nunca vai ser moeda de troca. Nunca vai ser um instrumento que as pessoas poderão usar para mudar os meus valores. É só um tanto de papel colorido que compra o que eu preciso pra viver. E que nem é muito, porque aprendi com a dureza que a falta de luxo é um luxo que os ambiciosos desconhecem.
Não que eu não queira ter uma vida melhor. Eu quero. Queria um dia poder realizar o sonho da minha mãe de ter uma casa e poder dar a ela condições de não trabalhar tanto. Queria um dia comprar um carro pra facilitar a vida. Queria levar minha família à praia pra sentir a energia do mar e ter um pouco de distração. Queria dar a eles uma alimentação melhor, um plano de saúde, uma convivência onde não se tenha que brigar pela falta de dinheiro. Mas eu ainda não posso. E mesmo diante da insatisfação que me toma quando percebo essa minha incapacidade, eu digo, repito e grito se precisar: EU NÃO VOU ME VENDER.
Nada, absolutamente nada que o dinheiro é capaz de comprar vale mais do que o ser humano que eu quero ser. Sei que ainda falta muito. Não sou perfeita e na minha imperfeição ainda faço muitas coisas que depois condeno. Mas eu não vou retroceder. Perder minha força de lutar pelo que acredito. Perder minha fé numa sociedade mais justa, mais humana. Nem que isso me custe jogar meu diploma dentro de uma gaveta, erguer a cabeça e voltar para trás de um balcão. Porque ao contrário do que muitos acreditam, o que realmente importa não é o que está fora de você. É o que está por dentro e dentro de mim mora uma sonhadora irreparável, do tipo que prefere voar a ter as asas cortadas por aqueles que vivem de conveniência. Eu não sou conveniente e mesmo pobre, mesmo sem sucesso, vou continuar sendo atrevida.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MASTURBAÇÃO MENTAL





Sensação de plenitude e delícia. É bem assim que tenho me sentido comigo mesma. Uma vontade intensa de pertencer a mim e só a mim me doar. É quase um monólogo sem tédio, cheio de intensidade, descoberta, suspiros. Um sorriso que não sai do rosto. Por quê? Porque eu me amo e quanto mais o tempo passa, mais esse amor cresce. Mais o nariz empina. E não venha me dizer que isso é arrogância. Não é. Nem prepotência.
É amor, só amor, um desejo insano de ser minha, só minha. Não que as pessoas não tenham um papel fundamental na minha vida. Elas têm. Sem a maioria delas eu não seria nada. Reconheço. Entendo. Mas o que quero viver, agora, é esse tesão por mim que me consome. Me enche de cor. É vermelho. É ardente. É vibrante. É o que me faz acordar com fome, o sol ficar mais amarelo e a energia da lua lamber a minha pele e me fazer uivar.
Esse romance que só me dá alegrias me faz perceber, a cada dia, o quanto temos que ser a pessoa mais importante da nossa vida. O quanto temos que nos dar carinho, atenção. Entender que temos que ser gentis com o que somos, aceitar o que queremos, conviver com o que nos foi dado e aprender a amar tudo isso que te faz ser único, exclusivo, especial. Viver é um misto de razão e emoção, sentimentos que despertam, sentimentos que adormecem, sentimentos que nos desmontam, sentimentos que desaparecem.
E tá tudo bem. Que seja. Que venha. Que vá. Porque quanto mais o tempo passa, mais me sinto VIVA.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

FAZER TÍTULO TAMBÉM CANSA





E chega àquela hora em que tudo te cansa. As pessoas, os sons, as cores, os efeitos. Tudo, absolutamente tudo. Não existe um motivo. O que existe é um peso enorme nos ombros... Ombros que doem mais, quanto mais o tempo passa. E aí você percebe que o cesto é pequeno para tanto lixo. Portanto, é inevitável o transbordamento. Como a gota de água que, mesmo insignificante, faz transbordar o copo cheio.
Quando derrama é que faz sujeira. E a sujeira precisa de alguém para limpar. Mas limpar nem sempre é tarefa fácil. Nem sempre existem pessoas interessadas nesse tipo de serviço, braçal, nojento. Eu não me interesso. A verdade é que hoje é um dia desinteressante. Do tipo que se pode facilmente tirar do calendário, pular, fingir que nunca existiu. Mas ainda nem acabou.
Agora que começou a noite e vou fazê-la ser breve, deitando a cabeça no travesseiro, tentando dormir cedo, bem cedo. Porque hoje definitivamente é um daqueles dias que tenho certeza que não deveria ter, sequer, levantado da cama.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A VERDADE É QUE NÃO HÁ VERDADE




Reencontrar bons amigos tem o seu valor, porque te faz repensar conceitos, abrir a mente, olhar o mundo por uma ótica diferente e ainda é possível se aperfeiçoar. E depois deste fim de semana de encontros incríveis, mais um pedacinho de mim sofreu uma pequena mudança que pode ocasionar, no fim das contas, outras pequenas mudanças interessantes, até chegar à revolução que pretendo sobre o entendimento e o uso da verdade.
Sempre vi a verdade como algo contestável e a mentira como uma questão muito mais interpretativa do que de alteração dos fatos. Essa relação entre esses dois lados de uma mesma questão é projetada pelas pessoas baseada em construções distintas, uso também distinto da forma de ver o mundo e das experiências de vida que se adquiriu para conseguir, ou não, enxergar. Mas enxergar o que? O conteúdo de um acontecimento / sentimento, que faça com que ele seja visto como verdade ou mentira.
Eu preferia ver pelo ponto de vista do sentimento. E optava pela verdade ou a mentira de acordo com o que ia causar na pessoa que recebia as minhas palavras (verdadeiras ou mentirosas). Ou o que eu achava que ia causar. Porque independente do que houve, o sofrimento só acontece quando a gente sabe de algo que nos machuca. Quando estamos imersos na ignorância, é impossível sofrer, a menos que se tenha uma capacidade extraordinária para fantasiar. Fantasias essas que são, em geral, bem piores do que a verdade. Nesse caso, eu não perco meu tempo fantasiando.
Também existe a diferença de interpretação sobre o ocorrido. E lidar com ela é bem mais difícil do que escolher entre a verdade e a mentira, porque essa diferença torna tudo relativo. As verdades sobre um mesmo caso não são as mesmas na boca de todas as pessoas. Nem as mentiras. Porque cada um recebe a vida com uma disposição. Tem um jeito. Foi feito de um tipo de barro que absorve ou não o que é jogado.
Há, ainda, pessoas que prefiram lidar com a mentira porque não conseguiriam enfrentar a verdade. Poderíamos nós, vestidos com o conceito quase divino de “usar a verdade acima de tudo”, impor esse enfrentamento? Mesmo quando o outro pede a mentira? Sempre achei que não, mas levava essa premissa tão ao pé da letra que aprendi a gostar mais da mentira, pela cumplicidade que temos. Nós nos entendemos de uma maneira generosa, enquanto a verdade me parece meio carrasca.
Com canta Matanza: “a verdade é que não há verdade”. E devemos reconhecer que também existem as verdades e mentiras temporárias. Porque nós somos seres temporários, que vivemos em ciclos, em eterna mudança. Nesses casos, a verdade ou a mentira são apenas uma questão de lugar no tempo e no espaço, não mais uma diferenciação do que é certo ou errado.
E depois de toda essa reflexão, embora continue nutrindo quase um amor pela mentira, vou deixá-la um pouco de lado. É preciso aprender a lidar com a verdade. Viver com os fatos reais. Entender que o mundo me permite ser verdadeira, mais do ponto de vista dos acontecimentos do que dos sentimentos. Até porque os sentimentos quase sempre são temporários e se existe uma verdade sobre mim, é que aprendi a ser cautelosa, em alguns casos. Nos que a cautela me abandona, geralmente acontece uma tragédia.
Por isso, mundo, a partir de agora só vou falar a verdade, doa a quem doer, com raríssimas exceções. Porque embora eu esteja no meu processo de enfrentamento da verdade, sinto que ainda devo respeitar aqueles que só têm forças para viver em uma doce e suave mentira.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SOU SIM INCONVENIENTE




Não, não e não. Não vou ser conivente com injustiças. Aceitar que as pessoas usem artimanhas para enganar as outras e a persuasão no sentido mais negativo da palavra. Nem se isso puder me prejudicar de alguma forma. Eu não fui criada assim. Não aprendi a conviver com quem se utiliza de mentira, sensacionalismo e da falta de informação alheia para disseminar fatos inexistentes. Não foi isso que aprendi na minha profissão. Não foi isso que aprendi na vida.
E nem que eu tenha que gastar todas as minhas energias em prol de causas que acredito, vou fazer isso. Porque de que vale viver se for para pautar as atitudes que tomamos na conveniência? Nesse caso, sou sim inconveniente. E espero ser cada vez mais, quanto mais o tempo passe. Porque não admito a possibilidade de ter que ficar em silêncio diante de atos desprezíveis. Não vou jogar um jogo sujo, com trapaças e falcatruas. Eu jogo pra ganhar, sempre, mas jogo limpo, de cara lavada e com a consciência tranquila.
Na verdade, acho até que estão fabricando ultimamente seres humanos sem consciência nenhuma. Sem ética nenhuma. Sem caráter nenhum. Mas lotadas de interesses. E o preço que se paga por ser desinteressado é alto. Mas eu não me importo. Afinal, sou de um mundo onde dinheiro não vale nada. Só o que vale são os valores e princípios que cultivo nessa vida. E é por isso que vou continuar lutando, discutindo, gastando as minhas energias para acabar com essa hipocrisia que rege a nossa sociedade e nossas relações.
Eu sei que não vou conseguir. Não sozinha. Sou só o beija flor tentando apagar o incêndio da floresta. Mas como ele, estou em paz, porque sei que estou fazendo a minha parte.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A FELICIDADE DOS OUTROS ME INCOMODA?




Ontem me deparei com essa pergunta e me obriguei a refletir sobre isso. E por mais que seja difícil assumir uma resposta, não pros outros, mas pra mim mesma, eu acho que sim, que em algumas circunstâncias a felicidade dos outros me incomoda. Principalmente quando afeta a minha própria felicidade, impedindo os meus sorrisos, prazeres, divertimentos. Porque às vezes, as pessoas simplesmente impõem sua condição feliz, sem se preocupar se estão invadindo a possibilidade do outro de ser feliz também.
E quando cheguei a essa conclusão, pensei se estava sendo egoísta. Há algum tempo minha satisfação própria, com a pessoa que estou me tornando, é sustentada por vários fatores: oração diária, meditação, leituras prazerosas e enriquecedoras, falta de conflitos externos e internos, pensamento positivo e a busca constante por algo de bom no outro.
Mas ultimamente, meu tempo escasso e um estresse constante não têm deixado espaço para o cultivo do bem dentro de mim, nem desse olhar de compaixão para o próximo. Não que isso me faça ser mau, necessariamente. Só torna mais difícil controlar esse ser forte, dominador, egocêntrico, impulsivo e raivoso que existe. Aí é hora de fazer merda se a felicidade dos outros estiver incomodando a minha possibilidade de ser feliz.
Nesses casos, a palavra egoísmo surge facilmente, mas numa tentativa de explicar a atitude alheia. A mente fica confusa e a agressividade corrosiva não me deixa lembrar que se enxergo algo em alguém, é porque existe o mesmo em mim. E depois de agir de uma forma repulsiva, é hora de me arrepender e assumir que ainda não sou tão boa quanto gostaria. Uma pena. Eu achava que os processos seriam mais fáceis.
O que me deixa mais tranqüila é saber que tudo que chega fácil demais, perde o valor com a mesma facilidade. Falta base, estrutura, apoio. A cada dia tenho entendido que construir quem se quer ser, é uma tarefa complicada, que requer esforço, vigília, e uma dose cavalar de estudo. E embora eu saiba que vou continuar tropeçando, caindo, me decepcionando profundamente comigo, também sei que vou continuar tentando, porque ser uma pessoa melhor, a cada dia, é só o que me faz levantar da cama. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

EU ME PERMITO




Estou ouvindo músicas do Só Pra Contrariar, banda que eu adorava quando era adolescente e que depois resolvi classificar como brega para que não tirasse de mim aquele status imaginário de alguém culto, que prefere letras profundas e nada superficiais. Me permitia, no máximo, ouvir superficialidades alternativas, já que tudo que é alternativo passou a ser considerado como “cult”. E é importante que já tenha refletido sobre ser ou não superficial para que o uso dos conceitos seja feito com certa clareza.
Não vejo mais problema em assumir que gosto de pagode. Até dos melosos, da época em que eu tinha 14, 15, 16 anos. Os melosos atuais são meio insuportáveis, porque falam de amores comuns, recheados de dores de corno e definitivamente não gosto de nada que seja muito corriqueiro ou que se utilize de dramas baratos. Os antigos, de 10 anos atrás também falam desse tipo de amor, mas me lembram a adolescência, uma das melhores fases da minha vida e de saudosismo, definitivamente, eu gosto muito.
Quando se é adolescente, pelo menos no meu caso, se absorve o que está na moda quase que por osmose e se assume esse gosto generalizado porque é preciso pertencer a um grupo, uma tribo, um aglomerado de pessoas que te aceitem como você é, mesmo que “o como você é” seja apenas uma criação necessária para não ser diferente. Eu queria fazer parte do grupo, na verdade, de vários grupos diferentes, então desde que aprendi o significado da palavra “eclética”, preguei esse rótulo em mim.
Com o passar do tempo fui afunilando meus gostos de acordo com o grupo que era mais interessante. Se ser considerada louca me agradava, era com os loucos que eu andava. E ouvia música Só Para Loucos, caretas não. E me comportava com o máximo de extravagância possível, porque os loucos não se importam. E por um tempo foi bom ser assim. Assumir uma postura anti social, radical, anarquista, revoltada. É preciso ser rebelde quando se é adolescente ou pré-adulto. Mas é preciso deixar de ser algum dia para não cair no ridículo.
Depois assumi a minha fase gay e todo meu discurso girava em torno disto. O arco íris era a minha bandeira. O lema era: Se joga pintosa, põe rosa. E eu me joguei. Me joguei nas festas, nas amizades restritas a esse grupo, as músicas de cantoras lésbicas da MPB, aos seriados de TV com casais homo e aos lugares onde eu podia agarrar a minha namorada sem nenhum pudor. E foi muito bom, libertador, essencial para o momento que estava vivendo.
Acho que agora estou na fase: Projeto 30 anos. E isso começou quando resolvi mudar meu modo de viver, não quando decidi fazer um blog. O começo do meu Projeto 30 anos foi o item: emagrecer é preciso. E com caminhada, o acréscimo de legumes e verduras a alimentação, a restrição as carnes, a redução no consumo de bebidas alcoólicas e do cigarro, e o mais importante de tudo, a morte de muitos grilos, muitos quilos também se foram e muitos mais irão no decorrer desse processo. Aos 30 quero estar no auge da gostosura para fazer o book que não fiz aos 15 anos. É, essa é uma das minhas grandes frustrações.
Mas o ponto mais importante desse projeto é: olhar para dentro. E com esse novo direcionamento dos olhos, estou conhecendo, descobrindo uma Alliny que tenho gostado bastante, principalmente porque sou capaz de admirá-la. Essa parte de mim que estava escondida de mim mesma é bem mais interessante, embora bem menos intensa, porque não está mais na fase da loucura. Também não está na fase gay, latente, que respira a sigla LGBT. Embora continue atuante quanto a defender os direitos dos homossexuais e daqueles que tem uma sexualidade diferente dos padrões sociais aceitos.
A fase em que me encontro agora é de autoconhecimento, reflexão, intimidade. E essa intimidade comigo me permite assumir também que gosto de pagode e sertanejo, do tipo safadinho. Me permite discordar de opiniões que antes não me atreveria, pelo pedestal em que colocava as pessoas que as emitia. Me permite abrir mão de pensamentos generalizados para formar meus próprios conceitos. E me permite, finalmente, fazer só o que EU realmente quero, porque o que os outros querem, acham ou precisam, sinceramente não importa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

SIM, EU SOU SUPERFICIAL




É, de certa forma devo concordar que sou superficial. Principalmente se me comparar com aqueles que têm a sua essência em poços profundos. Não é o meu caso. Minha essência realmente está na superfície, à flor da pele, ala Zeca Baleiro. É palpável, visível, quase transparente. Transborda da retina, do couro cabeludo, da ponta dos dedos e da língua. Quer ser tocada, sentida, vista. Quer tocar, sentir e ver. É só a ponta do iceberg.
E não tenho mais a intenção de disfarçar minha superficialidade, tentando parecer o que não sou, saber o que não sei, entender do que realmente não entendo. Isso fazia com 15, 20 anos e só o que consegui foram interpretações erradas ao meu respeito, que frustram aqueles que esperam de mim uma profundidade que não existe. Ou até existe, mas está escura, imóvel, guardada. Inacessível para mim, para você, pro mundo, menos para Deus.
É uma questão de contato, ligação, espiritualidade. Não tem nada haver com o real, com questões filosóficas. Nada sei de filosofia, embora faça muita questão de saber. Quando der, se der. E enquanto escrevo percebo que não tenho mais problema de relacionamento com a palavra superficialidade. Estou até conseguindo enxergá-la de um ponto de vista diferente, positivo. Antes dessa proximidade com os 30 eu me sentiria ofendida de ouvir de alguém que meus textos são superficiais. Principalmente vindo de quem me conhece tanto, me entende, me aceita e que gosto infinitamente.
Mas agora, diante da possibilidade e do desarmamento que me proporcionei perante a superficialidade, me sinto tranquila de assumir, acatar, absorver comentários que me abrem os olhos. SIM, EU SOU SUPERFICIAL. E de um jeito que nunca fui antes. Porque antes era uma mentira. Agora me inundo de verdades, quaisquer que sejam, mesmo que elas me dispam na frente de tantos que antes me viam cheia de roupas, máscaras, armaduras.
Essa troca de pele, fechamento de ciclo, esse caminho para os 30 anos, tem me dado a liberdade de SER que nunca tive, embora gritasse a plenos pulmões que não aceitava amarras ou imposições sociais. Mas eu mesma me prendia e me impunha uma Alliny criada. Uma fantasia que vesti por muito tempo e que hoje não me cabe mais. Acho até que nunca coube. E provavelmente vinha daí minha falta de ar constante, o aperto no peito, a postura artificial. MAS AGORA EU QUERO RESPIRAR. E não há nada, nem o risco de ser superficial, que me faça abrir mão da nudez.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

NÃO ME CABE.




E dentro de mim existe o maior amor do mundo... longo, estranho, angustiado e preso. Dentro de mim existem os maiores sonhos do mundo... longos, estranhos, angustiados e presos. Mas mudei meu jeito de amar e de sonhar. Há um tempo, pouco tempo atrás diria, tudo era mais intenso, dolorido, quase queimava e era quase insuportável. Hoje em dia dói, mas com a tranqüilidade daqueles que entendem, por algum motivo, que Maria Gadú tem razão quando canta “deixa estar que o que tiver que ser vigora”.

É importante em alguma altura da vida reconhecer que birra não serve para nada. Que desespero só contribui para queda de cabelo e gastrite. Que loucura só é aplaudida em contato com a arte. Mas a vida é uma arte, ou não? Se for, a loucura cabe então? E caber é uma palavra que venho usando muito. Essa e quase todas que são derivadas ou sinônimas.

Porque quanto mais perto dos 30 chego, mais percebo que algumas coisas, sentimentos, hábitos e pessoas não me cabem mais. E esse caber é tão natural quanto um jeans que ficou apertado ou largo demais. Confesso que quando se gosta muito de algo, mesmo que não caiba, ainda insistimos em guardar por uma desculpa qualquer. Talvez um dia volte a caber - dizemos a nós mesmos, sabendo que essa é uma das grandes mentiras que contamos. Eu ando preferindo jogar fora de uma vez e colocar o novo no lugar.

Ás vezes me sinto trocando de pele. Descamando. Como se minha alma conseguisse ultrapassar a barreira da epiderme para envolver todo o meu corpo com a sua essência. Para depois se deixar voltar para dentro em busca da proteção que sempre clama, clamou, clamará. Um ciclo. Uma busca. Um anseio desafiador de conviver em um mundo que se tem certeza que não lhe cabe.

Renato achava que não era daqui. Sou capaz de afirmar que eu não sou. Não porque me sinta diferente daqueles que cabem. É só porque sinto que algo atrás dos meus olhos, naquele recanto que raros conhecem, sente a solidão que só quem não pertence pode sentir. Eu não pertenço. A ninguém, a um clube, um grupo, uma tribo. Eu não pertenço nem a esse corpo que me deram para habitar essa Terra. Ele me limita, me trava, me impede de transcender.

E minha alma clama, clamou, clamará sempre por mais espaço, ar, vento, liberdade. E o que é ser livre? O pássaro é livre? O peixe é livre? O leão é livre? Certamente mais livres que eu. E quando me refiro a mim, ainda incluo no pacote minha mente atormentada que estou “desatormentando” e meus sentidos descontrolados que estou controlando. Em busca de quê? Não sei. Só sei que nada sei. Pelo menos descobri que quem disse isso foi Sócrates.

sábado, 1 de setembro de 2012

SÓ SEI QUE NADA SEI





Daqui a três anos serei uma Balzac. O que isso quer dizer? Pode usar esse termo no feminino? O Word está me dizendo que não. Uma amiga me contou que significa fazer 30 anos e eu acreditei nela. Acreditei em várias coisas que me disse. Nem por isso todas se concretizaram. Mas ela gostava de se denominar como a Dona da Verdade. Quem sou eu pra retrucar? Ou duvidar? Ninguém. E quanto mais o tempo passa, mais perco aquele egocentrismo que muitas vezes era a única coisa em mim que chamava a atenção das pessoas. O que vai substituí-lo? Não sei. Só sei que nada sei e na verdade nem me lembro quem disse isso. E isso, para ser muito sincera, não me interessa.
Não tenho medo de fazer 30 anos. Sei que muitas mulheres se descabelam, mas pra mim, acho que vai ser natural. Como algo que se faz naturalmente: andar, comer, falar, trepar. É, eu tinha que falar trepar. Desbocada é outro adjetivo que tenho na boca de muitos. E quem sou eu para dizer que eles estão errados? Ninguém. Só sei que nada sei. Só sei que, se virou senso comum, deve fazer sentido. Não dizem que a voz do povo é a voz de Deus? Quem disse isso? Não preciso repetir que não sei, nem que só sei que nada sei, ou preciso? Faz tanto sentido quanto a rosa falsificada que perde as pétalas. Que largam o centro, amarelo sol de verão, a pino, no centro, no meio do mundo, no teto.
Incrivelmente hoje me senti inspirada. Por quê? Não sei. Sei que nada sei e quando se trata de mim, sei menos ainda. E é estranho porque aprendi a meditar, fiz seminário hare krishna, decorei mantras, me formei na faculdade, estou na crise dos sete anos de um namoro, assumi o espiritismo, descobri o poder da sombra, quero incontrolavelmente casar e sou quase uma Balzac que ficou pra titia. E quanto mais o tempo passa e tudo passa por mim, menos sei de mim.
Sei que quero ser melhor hoje do que fui ontem e isso eu sei. Mas o resto, fico parada, pensando, tentando saber, mas foge da minha linha de raciocínio, como foge qualquer coisa atrelada a matemática ou a química ou a física ou a biologia. Só gosto mesmo de português. E nem gosto tanto assim a ponto de estudar. Acho que nunca gostei de estudar.
É, se tem uma coisa que o tempo vem me dando de presente é o poder de soltar as amarras a ponto de assumir que nunca gostei de estudar. Mas que amarras são essas? De onde vem? Para quem eu tinha mesmo que provar? Algumas pessoas acreditam até hoje que eu gosto ou que eu me esforço para ser inteligente. Ou será que sou eu que acredito que elas acreditam? Será que já fui descoberta e estou só sendo passada para trás? Será que me achar inteligente ainda é resquício do egocentrismo que penso não ter mais? Não sei. Não importa.
O que é importa é que se alguém ainda acredita, é uma pena. Sei que isso não mais me envaidece. Na verdade me envergonha. Máscaras não fazem mais meu tipo. Não combinam com meu projeto 30 anos. Porque 30 anos é uma idade que merece um projeto, mudanças, que algo extraordinário aconteça, afinal, são 30 anos. É sonoro, bonito, melancólico, quase triste, ou quase alegre. Mas no fundo eu sei que não vai mudar nada. Ou vai? Talvez mude.
Acho que encher a boca pra falar que se tem 30 anos faz com que as pessoas te respeitem mais. Por algum motivo elas ainda misturam idade com maturidade. Será que a etimologia das palavras contribui para isso? Ou seria o sufixo? Não sei. E nesse caso não sei mesmo. Nunca gostei de gramática. Mas repito, gosto de português. Aquele sem regras, que se aprende lendo livros, com um prazer livre, sem censura, ou conjugação verbal. Odeio pretéritos, perfeitos ou imperfeitos.
Só sei que dentro da gente alguma coisa se altera ao chegar perto dos 30. Eu sinto, às vezes. Contraditório? Pode ser. Hoje mesmo assumi que sou uma contradição. E quem não é? Eu prefiro ser, parafraseando Raul, essa contradição ambulante. É menos chato do que a monotonia do ser sempre igual. Embora eu ame uma rotina. Porque também não tenho mais aquela necessidade adolescente de fazer tudo ou qualquer coisa para chamar a atenção. Atenção de quem? Para que? Por quê?
Sou mais eu mesma, quanto mais perto dos 30 chego. E talvez com 40 seja mais eu ainda. Com 50 esteja dentro de mim. Com 60 já seja tão eu que nem me aguente mais, como não me aguentava com 15, 20 anos. Mas se tem uma coisa que também não faço mais é plano. Porque planos frustram a gente e pra que sentir frustração? Tentar controlar o mundo? Não, não tento mais, até porque ando muito cansada para isso. É, chegar perto dos 30 cansa. Mas é só cansaço físico e esse, com algumas boas horas de um bom sono a gente recupera facilmente. Complicado é o cansaço da alma. Aquele de quando os hormônios estão borbulhando e a vontade que se tem é de explodir o mundo ou se explodir. Nem que seja de tesão.
Mas convenhamos, tesão perto dos 30 é bem mais gostoso do que com 15, 20 anos. A gente até pode não ter mais tanta disposição, até porque as novidades diminuem numa escala considerável, mas algumas lapidações só acontecem com a idade. O peito cai, a gente engorda, cria estrias e celulites que não tinha antes, cabelos brancos e rugas aparecem, mas alguma coisa, talvez sem nome ainda, te dá uma certeza de ser gostosa, de trepar bem, fazer gozar e gozar gostoso.
E tudo isso que mencionei antes se torna um detalhe, quase mero, quase irrelevante. Quase porque obviamente a gente tem grilos. Grilo é o bicho que a mulher sabe criar com maestria. Se grilo desse dinheiro, as mulheres seriam os seres mais ricos do mundo. Elas sabem o que grilo come e às vezes fazem questão de alimentá-los bem. E por serem tão sensíveis, nunca deixam os grilos morrerem, por mais que incomodem. Criam melhor os grilos do que os próprios filhos.
E com esse papo de grilo confesso que fiquei um pouco inquieta. As pernas já se mexem sem controle. Os dedos já estão parados por segundos intermináveis a espera de um comando cerebral que os faça escrever algo fantástico. Portanto, para não desgastar esse eu artístico que voltou tão latente, hei de parar por hoje. Talvez amanhã continue, talvez não. Porque se tem uma coisa que venho aprendendo, quanto mais perto dos 30 eu chego, é que só o que é divertido vale a pena fazer.
Não que a gente não tenha que fazer nunca algo sem graça. Tem, principalmente por dinheiro, por mais que não se goste dele. Mas o que eu não vou mesmo é fazer algo sem me divertir, sem ganhar dinheiro. E como escrever não me dá um tostão furado, ainda, não vale à pena perder o meu tempo e o seu com baboseira. Nem para realizar um sonho de quando se tinha 15, 20 anos.
OBSERVAÇÃO NADA IMPORTANTE: Primeiro texto escrito em 3 páginas, sobre os 30 anos que eu farei daqui a quase 3 anos, com 1.253 palavras. O que isso quer dizer? Não sei. Lembra? Só sei que nada sei.